Ipea aponta deflação no preço de alimentos; analista diz que safra pode ter influenciado, mas dona de casa contesta: “Para mim, continua subindo”
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mediu o índice de preços de agosto do ano passado a agosto deste ano e chegou à conclusão que houve uma queda no preço de alguns produtos da cesta básica, favorecendo principalmente os mais pobres. De acordo com a pesquisadora Maria Lameiras, em agosto de 2023 teria havido deflação no preço de alimentos e bebidas. As principais quedas foram registradas nos tubérculos (-7,3%), carnes (-1,9%), aves e ovos (-2,6%) — além de leites e derivados (-1,4%).
“Em sentido oposto, o reajuste de 4,6% das tarifas de energia elétrica, e seus efeitos altos sobre o grupo habitação, impactou proporcionalmente mais no bolso das pessoas de menor poder aquisitivo, tendo em vista que essas classes despendem uma parcela maior dos seus orçamentos para a aquisição desse serviço”, detalhou Lameiras.
Manutenção de tendência
Para o economista Diones Cerqueira, especializado em Políticas Públicas Para o Desenvolvimento Industrial, o indicador de inflação por faixa de renda calculado pelo Ipea mostra a manutenção de uma tendência de redução da taxa de crescimento da inflação para as famílias de mais baixa renda que vem sendo observada nos últimos meses.
“Apesar desse movimento, a gente observa que — nos 12 meses encerrados em agosto — todas as classes estão com um indicativo de aceleração em relação ao crescimento dos preços das suas cestas”, destacou. “Então, [o índice] alcança tanto a de baixa renda quanto o segmento de alta renda”, avaliou.
O especialista lembrou que os índices do segmento de baixa renda estão com variação acumulada em 12 meses, numa inflação de 3,7%, e o segmento de alta renda alcançou 5,9%. “Analisando os dois aí, a gente vê que o segmento de baixa renda, essa inflação de 3,7%, está bem próxima do indicador nacional que é medido pelo IPCA. Então isso demonstra uma desaceleração quando a gente vai analisar o que tem acontecido no curto prazo”, explica.
Cerqueira aponta os motivos da queda do preço dos alimentos e das bebidas medido pelo Ipea: “No caso dos alimentos, esses preços eles devem estar caindo em função da safra, está aumentando a oferta de alimentos, a procura é menor do que a demanda, isso acaba reduzindo o preço”, arriscou.
“Para as famílias de baixa renda, esse movimento é muito importante, porque sinaliza para elas um horizonte bem mais positivo. Na medida em que a inflação cai para esse segmento, você tem um aumento na renda deles, no salário”, comemorou. “A inflação consome o poder de compra das famílias, quando você vai reduzindo esse crescimento da inflação, você vai aumentando esse poder de compra”, finaliza Diones Cerqueira.
“Cesta básica está igual”
Apesar dos números positivos do Ipea, a dona de casa Miryen Schiavicatti, moradora de Sobradinho (DF), declarou que não sentiu essa diminuição nos preços, principalmente dos alimentos que, segundo ela, continuaram subindo em agosto. “Na minha opinião está bem pior, eu acho que aumentou bastante e a gente nota sim, quando vai comprar alguma coisa, verdura [por exemplo], que tudo aumentou muito”, afirmou.
“Antes, a gente comprava as verduras, dava 40, 50 reais, agora dá mais de 100 reais quando você vai comprar verdura, fruta. Eu acho que aumentou na real mesmo, quando eu vou comprar eu vejo a diferença. Em agosto continuou a mesma coisa”, reclamou.